Por Filipe Venturini Signorelli[1]
Muitas vezes, existem verdades enviesadas, com padrões pré-estabelecidos de favorecimentos individuais ou de grupos de pertencimento. Porém, esta construção Ética, que faz emergir regras morais, deve ser balizada, não por um campo vivencial estreitado personalíssimo e/ou de agrupamentos que em suas convicções, acabam por excluir e/ou ferir gravemente a Ética e a moral de outros.
Não olvidamos que a Ética é um sentimento que remete ao íntimo de cada pessoa, que emerge do consciente individual, o ponto mais alto da personalidade humana em formação, por isso, tocamos neste tema sensível para não sermos conflitantes e errantes em nossa fala, mas, o que queremos trazer a baila, é que, ainda que no campo da individualidade, quando ela, a Ética, passa a se materializar como regra moral, deverá sempre compor um mosaico que se encaixa nos mais variados grupos sociais, ou seja, qualquer ser humano que possa ser alcançado por determinadas regras e padrões derivados de pensamentos, jamais poderá ter seu caráter personalíssimo maculado por “sentimentos” (ou vontades?) externos.
Mencionamos acima o pertencimento, palavra de suma importância que deve compor a formação natural do ser humano enquanto membro de uma sociedade, em potencial, na busca efetiva pelo que se entende por democracia, ou pelo menos, se deveria entender, afinal, apenas por oportuno, fatidicamente devemos lembrar que, no Brasil, nos últimos anos, observamos características “ditatoriais”, para não dizer, “tirânicas”, emanadas de todos os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), em um Estado amplamente conhecido e constitucionalmente garantido como Democrático de Direito (art. 1o, CF).
O pertencimento é algo substancialmente relevante para a condução coesa e assertiva da sociedade, inclusive, numa perspectiva socioeconômica, afinal, cada indivíduo irá se inclinar por caminhos pessoais e profissionais que se formam por derivação da sua personalidade, de como ele se moldou dentro do seio social, até mesmo, por meio de características que se manifestam a partir de suas habilidades inatas.
Desta forma, o individuo ao longo de sua vida vai se agrupando, e potencializando suas habilidades e competências, o que, a partir de uma perspectiva individual, passa a compor o desenvolvimento coletivo, com maior razão de ser, este pertencimento em sua máxima eficácia, conseguirá até mesmo modular com maestria os meios de produção, com entregas mais individuais mais justas e qualitativas.
A Ética da verdade passa a compor aquilo que cada indivíduo poderá enxergar como algo que, quando praticado por outros indivíduos ou grupo de indivíduos, refletirá positivamente em sua vida, nos mais variados sentidos. Pois, em resumidas palavras, como podemos explicar e/ou conceituar o que é Ética na prática? Simples, afinal, no fundo no fundo, todo mundo consegue definir o que é bom e ruim em determinada situação quando vai agir.
Então, para conceituar Ética na prática, devemos antes conceituar o que seria uma ação antiética na prática: A ação antiética é toda conduta praticada por um indivíduo ou grupo de indivíduos que seu resultado irá refletir em qualquer forma de prejuízo a outro indivíduo ou grupo de indivíduos.
Assim sendo, entender que a Ética nos remete a verdade, é tecer a ideia de “verdade” como única. No conceito de Ética na prática, verdade é verdade, tal como deve ser, o fato é bom ou ruim, o ato praticado fez bem ou mal, foi positivo ou negativo, seguiu ou não as regras, sejam elas normas sociais costumeiras ou escritas em qualquer das suas formas. Neste caso, em hipótese alguma se utilizará do prisma de “várias verdades”, como utilizam, muitas vezes, para julgar ou analisar um caso, e daí, tem-se comumente a ideia de que a aproximação da verdade por si já é suficiente.
Este nosso entendimento de que a Ética na prática está embrionariamente associada a plena verdade, é comungar do pensamento que toda e qualquer ação promovida por um indivíduo ou grupo de indivíduos deverá resultar sempre positivamente na vida pessoal e/ou profissional de um outro indivíduo ou grupo de indivíduos.
É o mais nuclear conceito de bem comum, aquele que, sem medo de errar, afirmamos ser supraconstitucional, componente observado na gênese da Dignidade da Pessoa Humana, em que todo indivíduo deve experimentar, ofertado não somente pelo Estado, mas, por todo ser humano que habita o nosso Planeta, e dele usufrui para manutenção da sua vida.
A ideia deste entrelaçamento nuclear entre Ética, verdade e pertencimento, no caminhar da história, deverá sedimentar a criação do pensamento crítico em todos os cidadãos, que, enquanto pessoa que compõe uma sociedade e/ou enquanto desenvolvedor das suas habilidades e competências profissionais, entenda a necessidade de construir em sua formação psíquica a ideia da Ética como um ato praticado individualmente, mas com sentir coletivo.
A verdade quando observada como real e efetiva na prática da Ética, conduzida por meio do pertencimento, do “ser parte”, do pertencer real da construção de uma sociedade por meio da sua forma de agir e pensar, é algo que transcende as barreiras do tempo e do espaço, e aqui, chamamos atenção para a atividade profissional, que, quando formatada na consciência, no sentimento de “pertencer” aquilo que desenvolve, ou seja, a integração da “pessoa” do profissional com aquilo que atua tecnicamente para real contribuição no progresso da coletividade, vislumbrará um bem maior que parte do individual para o coletivo, retornando à satisfação do sentir-se em “fazer parte”.
Por oportuno, aponto para aqueles que compõe de alguma forma os trabalhos do Instituto Ética Saúde, a entrega do seu “Ser Ético”, potencialmente, as pessoas jurídicas, materializadas pelo “pertencer” individual das pessoas físicas que lideram seus trabalhos.
A Ética é a mola propulsora da salvaguarda da dignidade vital do ser humano, claramente, os pertencentes aos trabalhos desenvolvidos pelo Ética Saúde, são aqueles que compõem esta engrenagem que tem como objetivo principal expurgar o arquétipo do mal das relações econômico-financeiras do setor da saúde, traduzido pela corrupção, fraudes, subornos, propinas, pagamentos indevidos e tantas outras práticas antiéticas que, no observar da Ética na prática como verdade única, acabam por prejudicar com risco de morte a vida de indivíduos e/ou grupo de indivíduos.
Cadernos do ILP: Ensino - Pesquisa - Extensão Cultural / Assembleia Legislativa. Instituto de Estudos, Capacitação e Políticas Públicas do Poder Legislativo do Estado de São Paulo. – v. 6, n.2 (primeiro semestre de 2025) – São Paulo: Instituto do Legislativo Paulista, 2025. pp 108-111
[1]Filipe Venturini Signorelli. Diretor Executivo do Instituto Ética Saúde. Professor, autor e pesquisador. Mestre e doutorando em Direito Administrativo pela PUC-SP. Especialista em Governança, Gestão Pública e Direito Administrativo; Direito Público. Ciências criminais e docência superior. Conselheiro no IPMA Brasil – International Project Management Associate. Presidente da Comissão Executiva de Introdução à Ética e Integridade na Formação do Profissional da Saúde no Brasil – IES.
* A opinião manifestada é de inteira responsabilidade do autor e não, necessariamente, a opinião do IES
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