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OPERAÇÃO ÍCARO – CORRUPÇÃO BILIONÁRIA, EMPRESAS PRIVILEGIADAS E MANIPULAÇÃO DE PROCESSOS TRIBUTÁRIOS

Publicação: 13/08/2025 Status: Em investigação Auditor fiscal da Sefaz-SP, Auditor que auxiliava, Fundador e proprietário da Ultrafarma, Diretor estatutário da Fast Shop
OPERAÇÃO ÍCARO – CORRUPÇÃO BILIONÁRIA, EMPRESAS PRIVILEGIADAS E MANIPULAÇÃO DE PROCESSOS TRIBUTÁRIOS

Contextualização do Caso

Em 12 de agosto de 2025, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), por meio do Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (GEDEC), deflagrou a Operação Ícaro, destinada a desarticular um esquema bilionário de corrupção envolvendo auditores fiscais tributários da Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo (Sefaz-SP) e empresários do setor varejista.

Segundo as investigações, o núcleo central da organização criminosa era composto por um auditor fiscal de alto escalão – supervisor da Diretoria de Fiscalização (DIFIS) – apontado como o principal operador do esquema, além de empresários beneficiados por decisões fiscais irregulares. Entre os investigados e presos estão o fundador da rede farmacêutica Ultrafarma e um diretor estatutário do grupo varejista Fast Shop.

O modus operandi consistia na manipulação de processos administrativos tributários, facilitando a quitação irregular de créditos fiscais em favor de empresas privadas. Em contrapartida, o servidor público recebia pagamentos mensais de propina por meio de uma empresa registrada em nome de sua mãe, configurando clara tentativa de ocultação da origem ilícita dos recursos. Estima-se que o valor total das vantagens indevidas tenha superado R$ 1 bilhão desde 2021.

Além das prisões temporárias, foram cumpridos diversos mandados de busca e apreensão em endereços residenciais e sedes das empresas investigadas, resultando na apreensão de valores em espécie, pedras preciosas e documentos que reforçam as suspeitas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Atualizações e Situação Atual do Caso

Status Atual:

Em investigação — inquérito criminal em andamento; foram realizadas prisões temporárias e diligências recentes.

Última Atualização:

13 de agosto de 2025 — data da apuração dos novos desdobramentos.

Natureza dos Procedimentos:

  • Inquérito conduzido pelo Ministério Público de São Paulo (GEDEC), com apoio da Polícia Militar e da Receita Federal.
  • Cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão, além de prisões temporárias.
  • Análise em curso de materiais apreendidos, que podem gerar novos desdobramentos.

Órgãos Envolvidos:

  • Ministério Público de São Paulo (MP-SP) – GEDEC
  • Polícia Militar do Estado de São Paulo (apoio operacional)
  • Receita Federal — fornecimento de apoio técnico-investigativo e compartilhamento de dados.
  • Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo — abriu procedimento administrativo contra servidor envolvido.

Investigados:

  • Artur Gomes da Silva Neto — auditor fiscal da Sefaz-SP, apontado como o "cérebro" do esquema.
  • Marcelo de Almeida Gouveia — auditor que auxiliava na operação do esquema.
  • Sidney Oliveira — proprietário da Ultrafarma.
  • Mário Otávio Gomes — diretor estatutário da Fast Shop.
  • Celso Éder Gonzaga de Araújo e Tatiane Araújo — suspeitos de lavar dinheiro e ligados ao esquema; encontrados com esmeraldas e dinheiro.
  • Auditor fiscal aposentado, também alvo dos mandados.

Fundamentos da Investigação:

  • Favorecimento ilícito de empresas com liberação acelerada e fraudulenta de créditos de ICMS.
  • Propinas pagas via empresa de fachada (Smart Tax) registrada em nome da mãe do auditor; escopo bilionário — cerca de R$ 1 bilhão.
  • Ocultação de ativos: grandes quantias em dinheiro, moedas estrangeiras e esmeraldas apreendidas.

Situação Processual:

  • Prisões temporárias de 6 pessoas no total, entre auditores, empresários e suspeitos de lavagem.
  • Cumprimento de 19 mandados de busca e apreensão em residências e sedes das empresas.
  • Apreensão de dinheiro (R$ 330 mil), moedas (US$ 10 mil, € 600), esmeraldas e documentos fiscais.
  • Empresa Smart Tax, usada como fachada, operando no endereço residencial do auditor.
  • Início de procedimento administrativo disciplinar pela Sefaz-SP.

Denúncias e Interações Institucionais:

  • MP-SP avalia propor delação premiada com executivos Sidney Oliveira (Ultrafarma) e Mário Otávio Gomes (Fast Shop).
  • Fast Shop se declara colaboradora, embora ainda sem acesso completo ao inquérito.
  • Ultrafarma ainda não se manifestou publicamente sobre as acusações.

Considerações Éticas e Relevância para o Setor

O caso da Operação Ícaro expõe um grave comprometimento da integridade institucional em um dos órgãos estratégicos de arrecadação e fiscalização tributária do Estado de São Paulo. A conduta investigada transcende a esfera criminal e administrativa, atingindo diretamente a confiança da sociedade na gestão fiscal e na aplicação justa da lei tributária.

A manipulação deliberada de processos fiscais para beneficiar empresas específicas fere frontalmente os princípios constitucionais da administração pública, em especial legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência. Além disso, a magnitude financeira do esquema – com estimativas superiores a R$ 1 bilhão em propinas – amplia o impacto social e econômico, representando perda de recursos que poderiam ser destinados a áreas essenciais, como saúde, educação e infraestrutura.

A presença de mecanismos sofisticados de ocultação, como o uso de empresas de fachada em nome de familiares, reforça a necessidade de mecanismos robustos de compliance e auditoria interna nos órgãos arrecadatórios, com ênfase na rastreabilidade de decisões fiscais de alto impacto.

O episódio evidencia também a urgência de aprimorar a integração entre órgãos de controle, ministérios públicos, corregedorias e forças policiais, permitindo detecção mais ágil de movimentações financeiras incompatíveis com a renda lícita de servidores e representantes de empresas.

Conclusão

O Instituto Ética Saúde manifesta preocupação com os fortes indícios de corrupção sistêmica revelados pela Operação Ícaro, considerando que tais condutas fragilizam não apenas a governança pública, mas também a competitividade empresarial e a justiça fiscal no Brasil.

O caso reafirma a importância de fortalecer mecanismos de integridade, compliance e fiscalização independente, prevenindo o uso de estruturas estatais para enriquecimento ilícito e favorecimento privado.

O Radar da Ética seguirá acompanhando de forma técnica e sistematizada todos os desdobramentos desta investigação, reforçando seu compromisso institucional com a transparência, integridade e accountability na gestão pública e no setor privado.


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