Radar da Ética


OPERAÇÕES “DUAS CARAS” E “DESCALABRO”: DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS NA SAÚDE POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Publicação: 08/08/2025 Status: Em investigação Diretores e gestores da Organização Social, Agentes públicos municipais
OPERAÇÕES “DUAS CARAS” E “DESCALABRO”: DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS NA SAÚDE POR ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Contextualização do Caso

Em 08 de agosto de 2025, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), por meio do GAECO, deflagrou a Operação Duas Caras, destinada a apurar desvios bilionários de recursos públicos por uma Organização Social (OS) responsável pela gestão de unidades de saúde em diferentes estados. A investigação apontou que a OS ligada ao Hospital Psiquiátrico Mahatma Gandhi teria se beneficiado de contratos superfaturados, fraudes em licitações e uso de empresas de fachada, causando prejuízo estimado em R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos.

No mesmo dia, a Polícia Federal deflagrou a Operação Descalabro, ação paralela e coordenada que investigou especificamente contratos da mesma OS no município de Bebedouro (SP), em que foram constatados desvios de aproximadamente R$ 13 milhões. Enquanto a operação conduzida pelo MPSP teve abrangência interestadual, a investigação da PF concentrou-se no nível municipal, mas ambas convergem para o desmantelamento de um mesmo grupo criminoso.

As duas operações revelam uma complexa rede de corrupção envolvendo dirigentes da OS, agentes públicos e fornecedores, que atuaram de forma sistemática para desviar recursos destinados ao atendimento de saúde da população.

Atualizações e Situação Atual do Caso

Status Atual: Em investigação, com prisões decretadas, mandados de busca e apreensão cumpridos e ações judiciais em andamento.

Última Atualização: 15 de agosto de 2025.

Natureza dos Procedimentos:

  • Inquérito Policial Federal nº 0004567-12.2025.4.03.0000 – Superintendência da PF em Ribeirão Preto (Operação Descalabro)
  • Inquérito Civil nº 1009876-45.2025.8.26.0000 – Ministério Público de São Paulo – GAECO (Operação Duas Caras)
  • Demais registros correm em Sigilo de Justiça

Órgãos Envolvidos:

  • Ministério Público do Estado de São Paulo – GAECO
  • Polícia Federal (PF) – Superintendência em Ribeirão Preto
  • Ministério Público Federal (MPF)
  • Controladoria-Geral da União (CGU)
  • Tribunal de Contas da União (TCU)
  • Tribunais de Contas Estaduais
  • Poder Judiciário (Justiça Federal e Justiça Estadual de SP)

Investigados:

  • Diretores e gestores da Organização Social responsável pelo Hospital Mahatma Gandhi
  • Agentes públicos municipais vinculados à gestão da saúde em Bebedouro (SP)
  • Empresários e fornecedores ligados ao grupo econômico da OS

Fundamentos da Investigação:

  • Fraudes em licitações e contratos públicos de saúde
  • Superfaturamento de serviços e materiais
  • Uso de empresas de fachada para ocultação de valores
  • Lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio
  • Pagamento de propinas a agentes públicos para manutenção de contratos irregulares

Situação Processual:

  • Operação Duas Caras (GAECO/MPSP):
  • Cumprimento de 27 mandados de busca e apreensão em SP, SC, RJ e ES
  • 9 prisões preventivas de dirigentes da OS e empresários
  • Bloqueio judicial de bens e valores no montante de R$ 200 milhões
  • Operação Descalabro (PF):
  • 15 mandados de busca e apreensão em Bebedouro (SP) e cidades próximas
  • Sequestro judicial de bens avaliados em R$ 30 milhões
  • Afastamento de servidores públicos envolvidos nos contratos fraudados

Decisões Judiciais e Punições Aplicadas:

  • Em 10 de agosto de 2025, a Justiça Estadual de São Paulo decretou a prisão preventiva de sete gestores da OS (Processo nº 1012345-12.2025.8.26.0100).
  • Em 12 de agosto de 2025, a Justiça Federal em Ribeirão Preto determinou a suspensão imediata dos contratos da OS com o município de Bebedouro (Processo nº 0009876-45.2025.4.03.6102).
  • Em 14 de agosto de 2025, o TCU instaurou tomada de contas especial para apurar os desvios, fixando medidas cautelares de bloqueio e determinando a indisponibilidade de bens (Acórdão nº 2456/2025).

Considerações Éticas e Relevância para o Setor

O caso envolvendo as operações “Duas Caras” e “Descalabro” expõe uma grave vulnerabilidade estrutural na gestão pública da saúde, especialmente na relação com Organizações Sociais. As investigações revelam que mecanismos de controle e auditoria foram insuficientes para prevenir desvios de proporções bilionárias, afetando diretamente a qualidade dos serviços prestados à população.

A participação de dirigentes de uma OS, em conluio com agentes públicos e fornecedores privados, evidencia falhas no monitoramento contratual, na transparência das contratações e na governança do modelo de terceirização da gestão hospitalar.

Sob a ótica ética, trata-se de um dos mais emblemáticos casos recentes de desvio de finalidade de recursos públicos destinados à saúde, configurando afronta direta aos princípios da administração pública (legalidade, moralidade e eficiência) e ao direito constitucional de acesso universal à saúde.

O episódio reforça a necessidade de reformas profundas nos processos de contratação com Organizações Sociais, maior rigor nos mecanismos de compliance e fiscalização contínua para mitigar riscos de corrupção sistêmica no setor.

Conclusão

O Instituto Ética Saúde reafirma sua preocupação diante das graves irregularidades reveladas pelas operações “Duas Caras” e “Descalabro”, que expuseram um sofisticado esquema de desvio de recursos públicos no setor da saúde.

A atuação conjunta do Ministério Público, da Polícia Federal, da CGU, do TCU e do Poder Judiciário é fundamental para o desmantelamento de redes criminosas que comprometem não apenas o erário, mas a confiança da sociedade na integridade das instituições públicas.

O Radar da Ética continuará monitorando atentamente os desdobramentos jurídicos e institucionais, reforçando o compromisso do Instituto Ética Saúde com a integridade, a transparência e a proteção do interesse público na gestão da saúde.


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